sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tradução do Comentário de Santo Tomás de Aquino ao Evangelho do XIX Domingo do Tempo Comum, ano C

O Evangelho (Lc 12, 32-48)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
32'Não tenhais medo, pequenino rebanho,
pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino.
33Vendei vossos bens e dai esmola.
Fazei bolsas que não se estraguem,
um tesouro no céu que não se acabe;
ali o ladrão não chega nem a traça corrói.
34Porque onde está o vosso tesouro,
aí estará também o vosso coração.
35Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas.
36Sede como homens que estão esperando
seu senhor voltar de uma festa de casamento,
para lhe abrirem, imediatamente, a porta,
logo que ele chegar e bater.
37Felizes os empregados que o senhor
encontrar acordados quando chegar.
Em verdade eu vos digo:
Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa
e, passando, os servirá.
38E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada,
felizes serão, se assim os encontrar!
39Mas ficai certos: se o dono da casa
soubesse a hora em que o ladrão iria chegar,
não deixaria que arrombasse a sua casa.
40Vós também ficai preparados!
Porque o Filho do Homem vai chegar
na hora em que menos o esperardes'.
41Então Pedro disse: 'Senhor,
tu contas esta parábola para nós ou para todos?'
42E o Senhor respondeu:
'Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor
vai colocar à frente do pessoal de sua casa
para dar comida a todos na hora certa?
43Feliz o empregado que o patrão, ao chegar,
encontrar agindo assim!
44Em verdade eu vos digo: o senhor lhe confiará a
administração de todos os seus bens.
45Porém, se aquele empregado pensar:
'Meu patrão está demorando',
e começar a espancar os criados e as criadas,
e a comer, a beber e a embriagar-se,
46o senhor daquele empregado chegará num dia inesperado
e numa hora imprevista,
ele o partirá ao meio
e o fará participar do destino dos infiéis.
47Aquele empregado que, conhecendo a vontade do senhor,
nada preparou, nem agiu conforme a sua vontade,
será chicoteado muitas vezes.
48Porém, o empregado que não conhecia essa vontade
e fez coisas que merecem castigo,
será chicoteado poucas vezes.
A quem muito foi dado, muito será pedido;
a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!



O comentário de Santo Tomás de Aquino
em glosa com os Padres da Igreja: Catena aurea in Lucam 12, 32-48
[tradução incompleta, por ora somente o início]

A Glosa: Depois de ter banido do coração de seus discípulos a preocupação com as coisas terrenas, o Senhor extirpa daí o medo que é o princípio das inquietudes vãs: “Não temais, pequeno rebanho”. Teofilacto: o Senhor chama de pequeno rebanho aqueles que querem ser seus discípulos, seja em razão da pobreza voluntária que abraçaram, seja porque estão abaixo dos anjos, cuja natureza é incomparavelmente superior à nossa. Beda: O Senhor chama ainda os eleitos de pequeno rebanho, seja em comparação com o grande número dos réprobos, seja ainda por causa do amor dos eleitos pela humildade. Cirilo: Ele lhes mostra a razão que deve banir de seus corações qualquer medo: “Porque aprouve a vosso Pai vos dar o seu reino”. Como se lhes dissesse: como aquele que vos destina tão preciosa herança poderia se recusar de vos tratar com bondade? Pois esse rebanho, por pequeno que seja pela natureza, pelo número, pela glória, contudo foi a ele que a bondade do Pai ofereceu a herança dos espíritos celestes, isto é, o reino dos céus. Se vós quereis possuir o reino dos céus, desprezai as riquezas da terra: “Vendei aquilo que tendes!” Beda: O Senhor quer-lhes dizer: Não temais, porque, ao combaterdes pelo reino de Deus, o necessário nunca vos faltará; vendei mesmo o que tendes, conselho que é nobremente praticado por aquele que, não contente de ter feito, por amor a Deus, o sacrifício de todos os seus bens, trabalha em seguida com suas próprias mãos para satisfazer às suas necessidades e poder ainda fazer esmola. Crisóstomo: Não há pecado que a esmola não possa abolir: é um antídoto eficaz para todas as feridas. Ora, não se faz esmola somente ao se doar dinheiro, mas também por meio de obras de caridade, na defesa do fraco, no cuidado dos doentes, e ao se dar um sábio conselho. Gregório Nazianzeno: Temo que não olheis a prática da misericórdia como obrigatória, mas como facultativa. Esta também era antes a minha opinião, contudo assustei-me com os bodes colocados à esquerda do Salvador, não por terem tirado o bem de outrem, mas por terem negligenciado Cristo nos pobres. João Crisóstomo: Com efeito, sem esmola, é impossível possuir o reino, pois uma fonte que retém suas águas se corrompe. E o mesmo acontece àqueles que conservam suas riquezas para si mesmos.

Um comentário:

  1. Mesmo sendo o texto sagrado tão conhecido, o Doutor Angélico nos faz lê-lo como se fosse a primeira vez e nos maravilharmos com a verdade. É esplêndido.
    Obrigado pelo seu esmero professor.

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