quarta-feira, 28 de julho de 2010

Comentários de Santo Tomás à Sagrada Escritura: Mt 5, 1-3

Formam um total de dez obras: Expositio in Iob (1261-64); In psalmos Davidis lectura (1271-73); Expositio in Cantica Canticorum (perdido); Expositio in Isaiam prophetam (1269-74); Expositio in Ieremiam prophetam (1267-68);Expositio in threnos Ieremiae prophetae (1264-69); Catena aurea super quattuor Evangelia (1261-64; depois de 1264); Expositio (lectura) in Evangelium sancti Matthaei (1256-59). Expositio (lectura) in Evangelium sancti Ioannis (1269-72); Expositio in sancti Pauli apostoli epistolas (1259-65; 1272-73).
            A Catena Aurea. Entre os muitos comentários de Santo Tomás à Sagrada Escritura, encontra-se a Cadeia de Ouro, ou a Glossa continua super Evangelia, que, como seu nome indica, é uma glosa que visa a mostrar a exegese dos Padres sobre os versículos dos quatro evangelhos. É uma brilhante seleção temática dos grandes mestres da patrística. O texto revela não somente a intimidade de Tomás com esses mestres mas também sua sensibilidade de unir e lançar luzes sobre passagens evangélicas que poderiam passar despercebidas pelos leitor. Exemplo disso é a seleção que ele faz para os versículos 1-3 do capítulo 5 do evangelho de Mateus, no início do Sermão da Montanha. O detalhe, observado pelos Padres e reportado por Tomá,s é a situação de Jesus: em uma montanha, sentado para ensinar. Eis a tradução parcial dessa passagem: 

(...) São João Crisóstomo: Ele sentou-se não no meio das cidades e das praças públicas, mas sobre uma montanha e na solidão; ele ensinou-nos assim a nada fazer por ostentação e a fugir das aglomerações, sobretudo quando devemos tratar de coisas importantes.[1] (...) São João Crisóstomo: Ele sobe a essa montanha primeiramente para cumprir a profecia de Isaías: « Subi ao topo da montanha »; em seguida, para nos ensinar que é necessário habitar a cumeeira das virtudes espirituais para ser digno de ensinar ou de escutar os oráculos da justiça de Deus, pois o que habita somente o vale não pode falar do alto da montanha. Se ficais sobre a terra, falai sobre as coisas da;  se quereis falar do céu, elevai-vos até o céu. Ele sobe, pois, à montanha para nos advertir que todo homem que queira penetrar nos mistérios da verdade, deve subri esta montanha da Igreja da qual o profeta disse : « A montanha de Deus é uma montanha fértil » (Ps 67, 16).  Santo Hilário: Ou melhor, ele sobe à montanha porque é das alturas de sua majestade que ele ocupa com seu Pai que ele nos propõe os celestes ensinamentos da vida cristã. Santo Agostinho: Enfim, ele sobe à montanha para nos fazer compreender que os mandamentos de Deus que ele tinha dado pelos profetas ao povo judeu, povo que ele precisava deter pelo medo, eram menos perfeitos do que as leis que ele ia dar por seu Filho a um povo que ele queria libertar pelo amor. « Assim que ele se sentou, seus discípulos se aproximaram dele ». São Jerônimo: Ele fala sentado e não de pé, porque eles eram incapazes de o compreender no brilho de sua majestade. Santo Agostinho: ou, ainda, ele fala sentado porque sua dignidade de doutor e mestre o exigia. Seus discípulos aproximaram-se dele : assim, aqueles cujo coração era mais próximo do seguimento de seus preceitos estavam também corporalmente mais próximos da sua pessoa. Rabano: No sentido místico, o Senhor sentado é a figura da sua encarnação, pois, se ele não se tivesse encarnado, o gênero humano não teria podido se aproximar dele.

(...) Chrysostomus super Matth. Omnis artifex secundum professionem suam, opportunitatem operis videns gaudet: carpentarius enim si viderit arborem bonam, concupiscit eam praecidere ad opus artificii sui; et sacerdos, cum viderit Ecclesiam plenam, gaudet animus eius et delectatur ut doceat. Sic et dominus videns magnam congregationem populi, excitatus est ad docendum; unde dicit: videns autem turbas Iesus, ascendit in montem. (...) Chrysostomus in Matth. Per hoc autem quod non in civitate et foro, sed in monte et solitudine sedit, erudivit nos nihil ad ostentationem facere, et a tumultibus ascendere, et praecipue cum philosophandum est ac de rebus seriis disserendumRemigius. Hoc enim sciendum est, quod tria refugia legitur dominus habuisse: navim, montem et desertum; ad quorum alterum, quotiescumque a turbis opprimebatur, conscendebat. Hieronymus in Matth. Nonnulli autem simpliciorum fratrum putant dominum ea quae sequuntur in oliveti monte docuisse; quod nequaquam ita est: ex praecedentibus enim et sequentibus in Galilaea monstratur locus, quem putamus esse vel Thabor, vel quemlibet alium montem excelsum. Chrysostomus super Matth. Ascendit autem in montem: primo quidem ut impleret prophetiam Isaiae dicentis: super montem ascende tu; deinde ut ostendat quoniam in altitudine spiritalium virtutum consistere debet qui docet Dei iustitiam, pariter et qui audit: nemo enim potest in valle stare et de monte loqui. Si in terra stas, de terra loquere; si autem de caelo loqueris, in caelo consiste. Vel ascendit in montem, ut ostendat quod omnis qui vult discere mysteria veritatis, in montem Ecclesiae debet ascendere; de quo propheta: mons Dei, mons pinguisHilarius in Matth. Vel ascendit in montem, quia in paternae maiestatis celsitudine positus, caelestis vitae praecepta constituitAugustinus de Serm. Dom. Vel ascendit in montem, ut significet, quia minora erant praecepta iustitiae quae a Deo data sunt per prophetas populo Iudaeorum, quem timore adhuc alligari oportebat; per filium autem suum maiora populo quem caritate iam convenerat liberari. Sequitur et cum sedisset, accesserunt ad eum discipuli eius. Hieronymus. Ideo autem non stans, sed sedens, loquitur, quia non poterant eum intelligere in sua maiestate fulgentem. Augustinus de Serm. Dom. Vel quod sedens docebat, pertinet ad dignitatem magistri. Accesserunt autem ad eum discipuli eius, ut audiendis verbis illius hi essent etiam corpore viciniores qui praeceptis implendis animo appropinquabant. Rabanus. Mystice autem sessio domini, incarnatio eius est: quia nisi dominus incarnatus esset, humanum genus ad eum accedere non potuisset.


[1] TOMÁS DE AQUINO. Catena aurea: Catena in Mattheum, cap. 5 l. 1. Tradução livre de Carlos Frederico Calvet. Para o  texto latino: http://www.corpusthomisticum.org/iopera.html: 27/07/10.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo excelente blog, Prof. Frederico!

    Obrigado por nos levar a subir o monte da fonte que não acaba.

    Sucesso para o Rigans montes!

    Philippe Gebara

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